A história de O Sexto Sentido tem início quando o Dr. Malcolm Crowe e sua esposa Anna estão comemorando um prêmio que ele acaba de receber do prefeito de Filadélfia por sua brilhante atuação no campo da psicologia infantil. É então que Vincent, um antigo paciente do Dr. Malcolm (que considera o rapaz seu maior fracasso do ponto-de-vista terapêutico), invade sua casa e o fere, se matando em seguida. Um ano se passa e o Dr. Crowe luta para recuperar sua auto-confiança. Ele agora está tratando de um garoto de nove anos chamado Cole Sear, um menino retraído que diz ver coisas e que, para desespero de sua mãe, parece viver em eterno pânico. Assim, através do filme vamos acompanhar o relacionamento que vai sendo estabelecido entre Malcolm e Cole e o distanciamento que surge entre o psicólogo e sua esposa - que, para seu desespero, está prestes a se entregar a um novo romance. É justamente o enfoque dado a estes quatro personagens (Malcolm, Anna, Cole e sua mãe) que torna O Sexto Sentido tão apavorante: ao tornar o espectador íntimo de seus protagonistas, Shyamalan faz com que realmente nos importemos - e temamos - por eles. Mas não é só isso: o trabalho de câmera deste jovem diretor também é extremamente hábil, especialmente nas seqüências que se passam no interior do apartamento em que o garoto vive: ligeiras oscilações nos enquadramentos nos transmitem a impressão de que aquela pequena família é observada constantemente pelos espíritos que perturbam Cole. Além disso, o tom da narrativa torna-se ainda mais assustador graças à inteligente fotografia de Tak Fujimoto, que explora com habilidade o estilo gótico de alguns pontos da arquitetura de Filadélfia, onde a história se passa. O roteiro é inteligente, repleto de detalhes tão sutis que a vontade que fica, após o término do filme, é tornar a assisti-lo a fim de tentar compreendê-lo em toda a sua magnitude. Nenhuma informação é gratuita e muitas delas passam desapercebidas até que, de repente, percebemos que algo relevante havia sido dito há muito tempo, levando-nos a recapitular tudo o que se passou até então, numa tentativa deliciosa de remontar o intrigante quebra-cabeças proposto pela trama. As atuações dos protagonistas são simplesmente brilhantes, destacando-se o trabalho desempenhado pelo garotinho Haley Joel Osment, possuidor de um talento que não deixa nada a dever para veteranos. Sua composição de personagem revela não só uma precocidade impressionante, como também uma profunda responsabilidade profissional - é evidente que ele mergulhou sem reservas na criação do perturbado Cole. Suas pausas, seus olhares e suas inflexões são sempre efetivas em cada cena, contribuindo para tornar seu implausível personagem completamente verossímil para o espectador. Mas grande parte do crédito deve-se a Bruce Willis, pois sua química perfeita com Osment é vital para o envolvimento definitivo da platéia. Sua frustração em função do colapso de seu casamento é transmitida com grande sensibilidade, em especial no momento em que ele fala sobre o assunto para Cole naquela que é uma das cenas mais emocionantes de O Sexto Sentido. Enquanto isso, Toni Collette também comove ao retratar a assustada Lynn, mãe de Cole. Seu desespero por não compreender o que está afetando o garoto só é igualado por suas freqüentes tentativas de levá-lo a relaxar. Merecem destaque, também, as presenças marcantes de Olivia Williams, como a esposa de Malcolm (embora sua participação seja pequena), e de Donnie Wahlberg, como o perturbado Vincent. Mesclando características de diversos gêneros, O Sexto Sentido não pode ser descrito meramente como um suspense, pois não é capaz apenas de nos assustar: as lágrimas e os risos (estes mais esporádicos e de fundo nervoso) também estão presentes durante toda a projeção.